Je ne regrette rien

Júlia Meirelles
2 min readNov 6, 2022

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Hoje acordei saudosista. E quis recordar todas as vidas que já tive até aqui. Diferente de capítulos, sinto que cada fase da minha vida é um livro. Alguns são de ficção, outros de romance e alguns deles são pura poesia. Alguns são de terror. Outros de tristeza. Assustadores. Mas todos eles fazem parte de mim. E me fazem ser quem eu sou hoje.

Intensa, profunda, sentimental, grande demais pra certas relações, pequena demais para entender a complexidade do mundo, do silêncio, do espaço vazio. Sou uma interrogação. Um vulcão ora desperto, ora adormecido. Uma força que queima cidades e navios, mas que depois chora em cima de suas cinzas. Ser assim me causa muitas perdas, proporcionais aos ganhos. E eu não me arrependo de nada.

Não me arrependo de ter ido. De ter voltado. Não me arrependo, em nenhum instante, de ser do meu time. De lutar por mim e pelo que eu acredito.

Sobrevivi, inteira. Apesar da dor, apesar da mágoa, da tristeza, da agonia de pulsar, da sombra do que já foi, de quem já fui. Deixo registrado, sigo adiante. Sigo adiante com leveza, porque sei a hora de ir embora.

Aprender essa lição é o que me faz não ter medo de seguir. Não seguro na borda da piscina, porque já segurei demais. Já segurei, durante muitos anos, uma vida de ilusão. Não me reconhecia no espelho. Era uma sombra de mim mesma, moldada por alguém menor que uma caixa de fósforos. Alguém que me aprisionou pelo medo. E que não soube me perder. Nem me ganhar.

Hoje entendo o preço da minha escolha. Sair da ilusão custou caro. E até hoje eu sigo buscando onde foi que me perdi.

Mas eu não me arrependo de nada.

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